segunda-feira, 4 de agosto de 2008

Rotina de um garoto globalizado




Acordar, virar para o lado, dormir. Acordar, levantar, olhar a hora. Atrasado novamente, por que nunca sempre tenho de dormir mais um pouco? Contrariando meu horário, ligar o computador. Inicializando, vagando como morto-vivo, ir até o banheiro. Olhar no espelho, ver novamente aquela figura derrotada de sempre.

Tomar banho, ainda molhado, olhar novamente para o espelho, “você é o cara”. Quase seco, ir cagando o chão com pingos d’água até o quarto, ver se o computador ligou. Devidamente ligado, entrar no orkut para ter informações de amigos, afinal, o mundo pode estar acabando. O frio entra pela janela e toca minha pele ainda úmida, frio. Vestir-me? Claro que não, Internet! Fechar a janela.

Armageddon à parte, vestir-se. Ir até a sala, topar com a mesinha, comer alguma coisa.
Voltar para o quarto, no caminho xingar a mesinha, procurar algo para fazer. Horas a fio tentando matar o tédio, entre uma tarefa e outra, esperar o tempo passar. Deu a hora.

Alegremente, todo serelepe e pimpão, arrumar a mochila para a escola, ir até a sala pegar um ou outro caderno jogado, topar com a mesinha novamente. Na volta dar uma bicuda na mesinha e trocá-la de lugar. Pegar a camisa, colocar a camisa, quase arrancar metade da orelha junto com o piercing enquanto passa a cabeça pela gola. Olhos cheios de lagrimas, ir ao banheiro. “Você é o cara”, arrumar o cabelo – por mim está arrumado, pela minha mãe, parece que um boi mastigou.

Jogar a carteira na mesa de jantar, como num ato de “põem dinheiro ai”, para a primeira alma solidária que vir. Ir até a porta, ver se está frio. Pegar a carteira e ir embora. Perder o ônibus, ver que o motorista “de sempre” passou mais cedo rindo de você, correndo até a esquina. Quase ser atropelado tentando atravessar quatro pistas tudo isso para chegar ao ônibus que já havia ido. Sentar no gélido banco de metal do ponto, banco esse que o gênio criador fez em um ângulo de 45º, para sua bunda ficar doendo.

Pegar o ônibus, que só existe com ar-condicionado, e como o dia estava frio o mesmo encontrava-se desligado. Outro gênio foi o ser que criou as travas para as janelas, não deixando que as mesmas sejam abertas, obrigando você a respirar o mesmo ar que todos naquele veículo.

Descer do ônibus ainda em movimento “para tirar onda”, catar cavaco e pisar na poça, melecando metade da calça. Parar na pastelaria comprar um kibe, olhar o relógio e sair correndo. No meio do caminho perceber que a “china” deu-lhe o troco errado, e que agora é inviável a volta à pastelaria, cinqüenta centavos mais pobre.

Quase ser morto por um motoqueiro sanguinário ao atravessar a rua. Portões fechados, jogar a lábia no inspetor, adentrar no mundo do conhecimento. Horas e horas de dedicação intelectual (adoro joguinhos de celulares). Bate o sinal do intervalo, se antes entrei no mundo do conhecimento, agora vejo o submundo dele. Amigos pra lá, amigos pra cá, amigos. O lanche mais uma vez intragável, sento-me, bate o sinal, levanto-me, um “poooorra, já!?” ecoa ao fundo. Mais uma bateria de exercícios complexos e problemas gigantes (to ficando bom no Tetris). Contagem regressiva para o final.

Dessa vez quase atropelado pela turba enfurecida que se dirige à saída. Uma avalanche de corpos pela a escada, uma bolinha de papel no olho de um terceiro. Piadinhas com os amigos na volta, música alta, sempre dou a sorte de sentar na janela, sem casaco...Frio da porra.

Chego em casa, com fome e sem sono, o primeiro é mole de se resolver, comida! Banho, e mais um pouco de entretenimento saudável e intelectual – MSN, Orkut... – Finalmente, deitar, sim deitar, ainda leva um pouco para dormir... Quase dormindo, um facho de luz adentra meu quarto, “cacete...”, encostar mais a janela. Deitar; quase dormindo, gatos brigam lá fora, “cacete...”, dar uns berros na janela. Deitar, quase dormindo, celular toca, “cacete...”, atender, trote, “cacete...”. Deitar, quase dormindo, despertador toca, “acordar”, “cacete...”.

Um comentário:

Patrícia disse...

Como posso dizer? Nunca vi igual...